Com muita alegria, o Instituto Histórico, Geográfico e Ambiental de Maricá (IHGAM), assume a partir de hoje a coluna sobre a nossa história, com artigos variados produzidos voluntariamente pelos nossos pesquisadores. O IHGAM foi fundado em 12 de janeiro de 2023, na Fazenda Itaocaia, em Itaipuaçu, e é o primeiro Instituto Histórico do Brasil com categoria mirim. Instagram: @ihgamarica e @ihgam.mirim Na época que os colonizadores portugueses chegaram ao Brasil, o povo Tupinambá habitava grande parte do litoral brasileiro, as margens da Baía de Guanabara, as enseadas e o entorno das lagoas. Sua língua, o Tupi antigo, era a mais falada no litoral, por isso, até hoje encontramos grande influência indígena nos nomes dados à nossa fauna, nossa flora, nossos alimentos e aos lugares que vivemos. Começando pelo nome do nosso país e da nossa cidade, o que mais temos são palavras indígenas no nosso vocabulário cotidiano. Brasil, Niterói, Itaboraí, Icaraí, Jurujuba, Copacabana, Ipanema, Itaipuaçu, Itaocaia, Bambuí, Guarapina, Inoã, Jaconé, Camburi, paçoca, jacaré, sabiá, caatinga, toró, maracanã, mandioca, caju, canoa, pitanga, tapioca, jaboticaba, jiboia, pindaíba e jabuti… a lista é gigante! E cada uma com o seu significado. Mapa de Luiz Teixeira – Roteiro de todos os Sinais, Conhecimentos, Fundos, Baixos, Alturas e Derrotas que há na costa do Brasil, desd’o Cabo de Santo Agostinho até o Estreito de Fernão de Magalhães. 1573 – 1578. Biblioteca da Ajuda, Lisboa.O nome Maricá, por exemplo, inicialmente grafado “Maricahaa”, conforme vemos no mapa da Baía de Guanabara acima, é uma palavra indígena, que no mapa se refere especificamente às Ilhas localizadas em frente à Praia de Itaipuaçu (Y. demaricahaa). Apesar de muitos autores já terem apresentado suas teorias sobre a origem do nome da nossa cidade, é muito forte a possibilidade dele estar vinculado à existência, emabundância, de uma espécie vegetal popularmente conhecida como Maricá (que significa espinheiro), nas ilhas e na região que hoje conhecemos como o nosso município. A Maricá (Mimosa bimucronata) é uma árvore ou arbusto arborescente, que pode variar entre 3 e 15 metros de altura, apresenta pequenas flores, que variam do bege ao branco e desabrocham entre dezembro e março. Flores do “Espinheiro Maricá” – Foto: Renata GamaCom tudo isso, podemos dizer sem dúvida alguma, que o nosso desenvolvimento cultural e a construção da nossa identidade tiveram muitos fundamentos na cultura Tupinambá. Grandes conhecedores da natureza e dos fenômenos climáticos, esses indígenas eram exímios canoeiros, viviam da pesca, da coleta de mariscos e de sementes, da caça, da agricultura e da produção de artesanato. E foi através dos estudos antropológicos e dos estudos realizados nos sítios arqueológicos que os pesquisadores descobriram como eram suas vidas e costumes. Artefatos arqueológicos expostos no Museu Histórico de Maricá, no Museu de Arqueologia de Itaipu ou mesmo no Museu Nacional são importantes testemunhos sobre o modo de vida dessa população ancestral brasileira.Em Maricá, vários sítios arqueológicos já foram encontrados e registrados no IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), em áreas como Cordeirinho, Jaconé, Lagoa do Padre e na Restinga. Segundo a arqueóloga Nanci Vieira de Oliveira, tais sítios foram caracterizados pela presença de ossos de mamíferos, de humanos, de aves, de répteis e de peixes, além de conchas, lascas de quartzo, lâminas de machado e cerâmica Tupi.Apesar de tanto avanço nessas pesquisas desenvolvidas em todo o território brasileiro, apenas no ano de 2001, que a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) reconheceu oficialmente a existência da etnia Tupinambá. Oito anos depois, com muita dificuldade, foi concluída a primeira fase do trabalho de demarcação do território Tupinambá na Bahia, com a publicação do resumo do “relatório circunstanciado de identificação e delimitação da Terra Indígena Tupinambá de Olivença (BA)”.Recentemente, em setembro de 2024, retornou ao país o “manto Tupinambá”, você ouviu falar? Muito mais do que uma vestimenta, “O Assojaba Tupinambá (Manto Tupinambá) é um manto sagrado, utilizado em rituais e composto por milhares penas de Guarás, uma ave nativa brasileira, costuradas em uma base de fibra natural. Representa para o seu povo uma confluência entre a dimensão espiritual (os Encantados e os antepassados), o meio ambiente e a cosmologia, a economia e a agroecologia, a memória e a transmissão de saberes ancestrais. Com aproximadamente 2m de largura por 1,80mde altura, o Manto Tupinambá, chama a atenção por sua suntuosidade e capacidade de conservação, apesar dos quase 400 anos de existência. Só no Museu Nacional da Dinamarca, este manto que retornou ao Brasil, permaneceu por 335 anos! Essa importante recondução faz parte de um movimento global que está devolvendo aos seus países de origem, artefatos levados durante a sua colonização. Além desse, é conhecida a existência de mais onze mantos espalhados pelos museus da Europa. Todos eles produzidos durante o período colonial brasileiro. Ilustrações do Manto Tupinambá. https://ensinarhistoria.com.br/o-deslumbrante-manto-tupinamba-de-penas-vermelhas/O retorno do Manto Tupinambá ao Brasil marca um novo tempo de respeito e esperança no reconhecimento da dignidade cultural e social dos indígenas brasileiros. Como disse também o nosso presidente, “para nós é uma obra artística de rara beleza, mas para o Tupinambá é uma entidade”, completa Lula. O retorno do manto é a retomada de uma história de conexão com a ancestralidade brasileira que foi massacrada, numa tentativa de apagamento, ao longo de muitos séculos, uma história que merece ser preservada, contada e passada para as futuras gerações.Autores:Renata Aymoré Gama – Presidente do IHGAMMiguel Angelo Padilha Marques – Presidente do IHGAM mirimFontes:LAMBRAKI, Alexandra. Compêndios da História de Maricá. Maricá, COP Editora e Gráfica Ltda, 2005https://www.ufmg.br/espacodoconhecimento/influencia-do-tupi/https://ensinarhistoria.com.br/o-deslumbrante-manto-tupinamba-de-penas-vermelhas/https://blogs.correiobraziliense.com.br/dad/65-palavras-de-origem-tupi/https://www.gov.br/cultura/pt-br/assuntos/noticias/heranca-dos-povos-originarios-manto-tupinamba-e-apresentado-oficialmente-ao-pais.
Continue lendo...