Foto: Katito Carvalho
Prefeitura promove mês de atividades voltadas à saúde mental, valorizando o cuidado humanizado e a liberdade dos usuários dos serviços psicossociais
Durante todo o mês de maio, a cidade de Maricá, no Rio de Janeiro, se transforma em um espaço de reflexão, acolhimento e arte. Em alusão ao Dia Nacional da Luta Antimanicomial (18/05), a Prefeitura, por meio da Secretaria de Saúde, está promovendo uma série de atividades culturais e educativas que colocam a saúde mental no centro das atenções — com dignidade, respeito e compromisso com os direitos humanos.
Na terça-feira (13), a Lona Cultural de Itaipuaçu foi palco de uma programação especial: pintura, poesia, oficinas corporais e musicalização tomaram conta do ambiente, envolvendo pacientes e profissionais da rede de saúde mental. As ações, que seguem até 30 de maio, reforçam a importância do cuidado humanizado e da liberdade como pilares do tratamento psicossocial.
Arte e escuta ativa como instrumentos de transformação
Durante o evento, os participantes puderam vivenciar momentos de expressão artística e integração social. Segundo o secretário municipal de Saúde, Marcelo Velho, Maricá tem se destacado por adotar práticas que valorizam a escuta e o acolhimento.
“A Luta Antimanicomial é mais do que uma data: é um movimento que representa o nosso compromisso com uma saúde mental mais humana, livre e conectada com a realidade dos nossos usuários. Vamos seguir avançando nesse caminho”, afirmou o secretário.
A superintendente de Saúde Mental, Daiana Albino, também ressaltou a importância da integração entre os diversos serviços da rede. “Não basta apenas fechar os antigos manicômios. É preciso abrir espaços de convivência, como os CAPS, os serviços residenciais e os leitos no Hospital Conde Modesto Leal. Estamos falando de reconstruir vínculos e respeitar trajetórias.”
Memórias, lutas e histórias de superação
Natália Mazori, médica psiquiatra especializada no atendimento a crianças e adolescentes, pontuou o impacto das legislações que surgiram após o movimento antimanicomial.
“Essa luta é constante. O manicômio não é só físico. Ele pode morar nos nossos preconceitos, nas práticas que silenciam o sofrimento. Trabalhar com cuidado, com escuta e com respeito é desmanchar esse modelo que violou direitos por tanto tempo”, destacou.
E ninguém melhor para atestar o poder transformador dessa rede do que quem a vive no dia a dia. Roselito de Souza Teles, de 55 anos, usuário do CAPS desde 2010, emocionou a todos ao relatar sua trajetória.
“Cheguei aqui sem vontade de viver, mas encontrei pessoas que me fizeram me reencontrar. O CAPS me fez gostar de mim de novo. Me salvou.”
Uma programação para fortalecer vínculos
A mobilização continua com outras atividades importantes. Nesta quarta-feira (14), a Arena Flamengo recebe uma intervenção cultural entre 9h e 11h30, com expressões artísticas que convidam à reflexão sobre o cuidado em saúde mental.
Já na quinta-feira (15), o Cine Henfil sedia o Fórum de Atenção Psicossocial, das 8h30 ao meio-dia, com o tema “Rede de Urgência e Emergência na Atenção Psicossocial: Integração e Resposta na Atenção à Crise em Saúde Mental”. O encontro é aberto a profissionais da área, estudantes e público interessado.
O encerramento das atividades está marcado para o dia 30 de maio, com um grande evento na Praça Orlando de Barros Pimentel, no Centro. Entre 8h e meio-dia, haverá dinâmicas culturais, ações esportivas e exames gratuitos no Caminhão da Saúde — tudo voltado ao cuidado com os usuários da saúde mental.
Luta Antimanicomial: um compromisso com o presente e o futuro
A Luta Antimanicomial no Brasil começou a ganhar força nos anos 1970, com o surgimento da Reforma Psiquiátrica. Desde então, vem transformando profundamente a forma como a sociedade lida com o sofrimento mental. O marco legal dessa transformação veio com a promulgação da Lei 10.216, de 2001, que assegura o direito ao tratamento em liberdade e estimula serviços mais humanizados, como os CAPS e os Serviços Residenciais Terapêuticos.
Mesmo com todos os avanços, os desafios ainda são grandes. Preconceitos persistem, e muitas vezes os estigmas dificultam a reintegração social das pessoas com transtornos mentais. Em Maricá, essas barreiras estão sendo enfrentadas com ações concretas, onde arte, cuidado e escuta se unem para promover dignidade e inclusão.
Fotos: Katito Carvalho


