Foto arquivo pessoal
Da dor à potência — como a cantora fluminense transformou vivências difíceis em música e empoderamento feminino após os 50 anos
Nem todo recomeço começa do zero. Às vezes, ele nasce de algo que estava ali o tempo todo, só esperando a coragem para florescer. É o caso de Dalva Alves, uma mulher cuja história pulsa em cada acorde que canta. Natural do bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, mas há anos moradora de Maricá, Dalva é dessas artistas que atravessam o tempo e se reinventam sem perder a essência.
Sua jornada com a música começou cedo. Aos 19 anos, já interpretava clássicos da MPB com uma versatilidade admirável, passeando pela bossa nova, samba, reggae, blues, jazz e rock. Seu talento logo chamou atenção: em 1997, levou o primeiro lugar no prestigiado Fest Valda, na categoria cover, com uma versão reggae arrebatadora de “Como Nossos Pais”, de Belchior. Essa vitória abriu as portas para palcos no Rio e em São Paulo. Mas foi só depois dos 50 anos de idade que Dalva mergulhou de vez na criação autoral — e encontrou nela uma nova forma de existir.
Não foi uma decisão ao acaso. As músicas que hoje emocionam plateias inteiras nasceram de páginas íntimas, escritas como desabafos após uma experiência dolorosa em um relacionamento abusivo. Transformar dor em arte é uma das formas mais bonitas de cura, e Dalva sabe disso como poucas. Seu refúgio foi o rock — aquele que ela ouvia desde sempre, com paixão, e que agora se tornou a base do seu discurso artístico.
O resultado mais visceral desse processo é o projeto “Mama Rock”. Pensado especialmente para mulheres com 50 anos ou mais, o trabalho celebra a liberdade, a autenticidade e o poder de recomeçar com brilho nos olhos. Cada música é como um espelho para outras mulheres que viveram histórias semelhantes, mostrando que o palco da vida continua aberto, não importa a idade.
E a trajetória musical de Dalva tem raízes profundas. O talento corre na família: sua mãe, sua irmã Simone (já falecida), e seu irmão baterista sempre estiveram presentes nesse universo sonoro. Até mesmo sua irmã que vive em Los Angeles trilhou um caminho artístico, como DJ. O avô materno, violinista, também deixou seu legado. Com tantas influências ao redor — de Joyce, Elis Regina e Gal Costa a Rita Lee, Janis Joplin, Djavan, Lenine, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque — não é de se estranhar que Dalva tenha construído uma identidade musical tão rica.
Atualmente, ela se divide entre quatro projetos musicais: Banda Cult, que se apresentará no Maricá Musical (previsto para maio festa de aniversário da Cidade de Maricá), Mama Rock, Banda Bigorna e o Quinteto Nossa Bossa. Também faz apresentações mais intimistas, num formato acústico de voz e violão que toca fundo na alma.
Dalva Alves não é apenas cantora. Ela é cronista da própria vida, mensageira da resistência feminina e símbolo de que a arte — quando feita com verdade — atravessa gerações. Em junho, ela lança oficialmente o álbum Mama Rock em todas as plataformas digitais. Um convite à reflexão, à emoção e, acima de tudo, à celebração de quem decide não se calar.
Fotos: Arquivo pessoal






