Whashington Quaquá: O Menino da Favela Que Se Tornou Líder e mentor de Uma Revolução Social

De uma casa simples às margens do Rio Mumbuca ao comando de uma cidade modelo, Quaquá se consolida como símbolo de superação, cidadania e compromisso com os mais pobres. Poucos políticos no Brasil carregam consigo uma trajetória tão marcada por desafios e conquistas como Washington Quaquá. Nascido em 1971, no humilde bairro do Caramujo, em Niterói, sua infância foi moldada pela escassez, mas também por uma alegria resistente, típica das comunidades brasileiras. Aos 53 anos, ele retorna ao cargo de prefeito de Maricá pela terceira vez, com a missão renovada de continuar transformando a cidade em referência nacional em políticas públicas inclusivas. A sua eleição mais recente não é apenas a retomada de um mandato; é a consagração de uma jornada de vida que começou em um casa humilde de chão batido, sem portas, janelas ou alimento garantido. A chuva entrava por todos os lados da casa, mas não foi suficiente para apagar a chama de um menino determinado a fazer diferente. Em tempos difíceis, quando a fome batia à porta, era do Rio Mumbuca que vinham os peixes e rãs que alimentavam a família. Anos depois, em um gesto simbólico e cheio de significado, Quaquá batizou com o nome do rio a Moeda Social Mumbuca, instrumento que hoje garante segurança alimentar a milhares de moradores de Maricá. Juventude militante e visão de futuro Antes mesmo de ingressar na universidade, Quaquá já carregava nos ombros a responsabilidade de ser uma voz ativa em defesa dos excluídos. Aos 14 anos, entrou para o Partido dos Trabalhadores, inspirado por figuras como Vladimir Palmeira e impulsionado por uma sede de justiça social. Mesmo enfrentando dificuldades, persistiu nos estudos até conquistar uma vaga em Sociologia na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói. Foi nas salas de aula e nos corredores do movimento estudantil que ele começou a moldar sua visão de mundo, sempre guiado por um compromisso inabalável com a luta contra a desigualdade. Esse mesmo espírito o acompanharia ao longo da vida política, seja como deputado federal, presidente estadual do PT ou membro da Executiva Nacional do partido. Um projeto de cidade para todos A vitória de Quaquá nas urnas em 2008 marcou o início de um novo capítulo em Maricá. Sua gestão inaugurou uma era de investimentos sociais ousados e inovadores. Programas como a Tarifa Zero — com os famosos “Vermelhinhos”, ônibus públicos gratuitos — e a Moeda Social Mumbuca colocaram a cidade no radar nacional e até internacional como exemplo de gestão voltada às pessoas. A sequência de governos progressistas, mantida por seu sucessor Fabiano Horta, consolidou Maricá como um laboratório de políticas públicas centradas na economia das famílias, na dignidade da população e na reconstrução do tecido social. O impacto dessas ações foi reconhecido pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, que concedeu a Quaquá a Medalha Tiradentes — a mais alta honraria da Casa. Vida pessoal e raízes profundas Casado com Gabriela Siqueira Lopes, professora e empresária nascida em Honório Gurgel, Quaquá é pai de Helena e Diego — este último também atuante na política, como ex-vice-prefeito de Maricá e atual secretário de Habitação no Rio de Janeiro. Avô de Luiz e Alice, ele se orgulha de suas raízes portuguesas, herdadas dos bisavós Roboão e Maria, imigrantes do norte de Portugal. Sua história de vida está registrada no livro autobiográfico “Da Favela ao Poder”, no qual compartilha em detalhes o caminho que o levou da periferia ao centro das decisões políticas. Ele também publicou o livro de poesias “Cabeça nas Nuvens”, com prefácio do sambista Moacyr Luz — uma mostra de que o político também encontra na arte uma forma de expressar sua alma inquieta. Um novo começo Reeleito para mais um mandato em 2024, agora com João Maurício, o Joãozinho, como vice-prefeito, Quaquá promete ampliar ainda mais os projetos sociais. “Minha missão é garantir que nenhuma criança durma com fome, que cada idoso tenha dignidade, e que a cidade continue crescendo de forma justa. A economia das pessoas é o centro da nossa política”, afirma ele. Washington Quaquá segue sendo um exemplo vivo de que a favela não só resiste, como também vence. E sua história é, antes de tudo, um convite à esperança. Neste ano de 2025, em maio do ano corrente, já realizou inúmeras melhorias, inclusive retomando asfalmento nas ruas da cidade de Maricá, inaugurou creche, e tem mais para inaugurar, ampliou a preocupação com a segurança, educação e saúde. Estes 3 anos e s meses e 22 dias, que seu mandato tem, suas projeções tem muito mais, retomada da abertura do canal do Recanto, o porto de Jaconé que foi liberado pelos orgãos competentes federais e municipais. tem também um marco para a cidade de Maricá, que foi a compra de dez projetos inéditos de Oscar Niemeyer, que foi assinado o contrato dia 28 de março. Niemeyer é um dos maiores nomes da arquitetura mundial. Com essa iniciativa, Maricá se tornará a segunda cidade brasileira com mais obras do arquiteto, depois apenas da capital, Brasília. A cidade se tornará a segunda com mais obras do arquiteto no Brasil, depois de Brasília. E muito mais que o Prefeito Quaquá está preparando para o futuro da ciade de Maricá, juntamente com sua equipe de governo.

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Alforrias na Pia Batismal da Paróquia de Maricá, no século XIX.Paulo César Pereira de OliveiraNo

No dia 13 de maio de 2025, a abolição da escravidão no Brasil completará 137anos. Em comemoração a esse marco histórico e simbólico de nosso país, o IHGAM e oIHGAM-Mirim publicam, nesta edição do Aconteceu Maricá, um artigo sobre asAlforrias Batismais – uma prática pouco conhecida da história local, pela qual criançasnascidas de mulheres escravizadas recebiam a liberdade durante o batismo.O estudo tem como base o Livro de Batismos Mistos da Igreja Matriz de NossaSenhora do Amparo, referente ao período de 1835 a 1849. Ao todo, o volume documentacerca de 2.590 batismos, dos quais apenas 60 correspondem a crianças nascidas emcondição de cativeiro. Desses, 58 incluem a concessão de alforria no próprio ritoreligioso. Todos os registros dos recém-libertos foram assinados pelo vigário JoséFaustino Gomes de Santana, pároco responsável pela igreja local na época.Esses casos revelam que o batismo, além de seu valor religioso e social, tambémpodia funcionar como um instrumento jurídico de libertação. As alforrias batismaisintegravam um conjunto de estratégias utilizadas por senhores e escravos para legitimara liberdade, assim com as cartas de alforria, testamentos e outros documentos, refletindoos diferentes interesses em jogo. Como os assentos de batismo tinham um valor equivalente ao de uma escriturapública, as alforrias neles registradas não precisavam ser reconhecidas em cartório. Essesmesmos registros podiam servir como prova da posse do escravo por parte do senhor,bem como formalizar doções e transferências de propriedade, sem a necessidade dedocumentação notarial. O exemplo a seguir, extraído do livro de batismo local, podeajudar a ilustrar esse uso. Dinâmicas das alforrias Batismais em MaricáComo mencionado, entre 1835 e 1849, foram celebradas 58 alforrias na paróquiade Maricá. Esse número está em conformidade com o padrão observado em outraslocalidades fluminenses, como São Gonçalo e Macaé. Quanto ao perfil dessas crianças,nota-se um equilíbrio entre os sexos: foram alforriadas 32 meninas e 26 meninos. Todosforam identificados como filhos naturais. Em cinco casos, a liberdade foi concedidamediante pagamento ao proprietário. Desses, dois foram pagos pelos próprios pais dobatizando, um pela mãe, uma pelo padrinho e outro por um ex-senhor. A tabela abaixo mostra os tipos de alforrias, conforme o gênero do batizado.Tipo de Alforria Menina Menino Total %Gratuitas 29 24 53 91%Pagas 3 2 5 9%Fonte: Livro de Batismo Misto (livres/libertos e escravos) da paróquia de Maricá (1835-1949) A ampla maioria das alforrias foi gratuita: 91% contra 9% pagas. Esse dado revelaque os motivos para as concessões iam muito além dos valores financeiros. Entre ossenhores e senhoras que alforriaram, 43 justificaram a concessão “por sua vontade”, dezmencionaram “os bons serviços prestados pela mãe do batizando” e cinco, por terem“recebido determinada quantia”.Os registros de batismo também permitem identificar o perfil das mães cativas:32 eram brasileiras e 26 africanas. Entre elas, Rosa, a escrava africana foi a mulher coma maior quantidade de filhos libertos na pia batismal, a saber: Candido, em 1836; Maria,em 1838; Pedro em 1840; Ignácia, em 1840; e Francisca, em 1843. Em todos os casos,ela escolheu padrinho livres – uma estratégia visando algum tipo de ganho, como proteçãoe possibilidades de intercessão junto ao senhor no processo de alforria.Escolher padrinhos bem situados na hierarquia local era fundamental nessecontexto. Em Maricá, no período estudado, todas as crianças forras tiveram padrinhoslivres. Nenhum senhor ou senhora foi escolhido para apadrinhar, mas em alguns casos,parentes seus exerceram esse papel. Em uma das situações, o padrinho foi responsáveldireto pela compra da alforria: Felipe José Miguel, em 17 de agosto de 1847, pagou aquantia de 45 mil réis a Geraldo Franco Siqueira pela liberdade de seu afilhado, Manoel.Das 58 crianças alforriadas analisadas, apenas duas tiveram o nome do pairegistrado na cerimônia de batismo. Isso indica que, em 56 casos, apenas a mãe foimencionada, em conformidade com as normas eclesiásticas da época, que restringiam oregistro do nome do pai aos filhos naturais. As duas exceções identificadas possivelmentese explicam pelo envolvimento direto dos pais na compra da liberdade dos filhos. LuizJosé Reis (livre) e Florinda (parda, escrava), pais de Henriqueta, pagaram 60 mil réis pelaalforria da filha, em 1844. Já João Antônio da Silva (livre) e Ricarda (parda, escrava),pais de Guilhermino, desembolsaram a quantia de 64 mil reis, em 1847.Com isso, podemos encerrar afirmando que a primeira chance de alforria paraaqueles nascidos no cativeiro se dava pelo batismo. No entanto, os estudos sobre essetema são poucos, merecendo maior atenção e aprofundamento. Autor: Paulo César Pereira de Oliveira – Graduado em História pela UFF, Professorde História (Araruama) e Membro do IHGAM.Referência Bibliográfica:FREIRE, Jonis. Escravidão e Família escrava na Zona da Mata Mineira Oitocentista.Campinas, 2009. f.359. Tese (Doutorado em História), Instituto de Filosofia e CiênciasHumanas, Universidade de Campinas, Campinas, 2009.OLIVEIRA, Paulo César P. Família, Compadrio e Alforrias na Pia Batismal. Vila de SantaMaria de Maricá (RJ), 1835-1849. Monografia (Graduação em História) – Instituto deHistória, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2017

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