Texto e pesquisa Miguel Ângelo Padilha Marques
Foto: Reprodução da pagina facebook Maricá Antigo
A Semana Santa faz parte de um período litúrgico da Igreja Católica em que se celebra os últimos dias da vida de Jesus Cristo, sua paixão, morte e ressurreição. Acredita-se que essa tradição da Semana Maior tenha se originado no século III, com os cristãos primitivos. É um período Santo iniciado no Domingo de Ramos, com a entrada de Jesus em Jerusalém. Na Segunda-feira ele chega a Betânia para fazer a última visita aos amigos de toda a vida. Neste dia também se revive a expulsão dos vendilhões do templo e a cura de alguns doentes; a Terça-feira, foi o dia em que Jesus foi ao Monte das Oliveiras orar e sofreu uma emboscada; na Quarta-feira não se tem registro do que Jesus fez, mas acredita-se que ele ficou recolhido com os mais próximos; na Quinta-feira, Cristo instituiu o sacerdócio, lavou os pés dos seus discípulos e realizou a última ceia; a Sexta-feira Santa foi o dia em que Jesus foi preso, julgado, condenado e crucificado, falecendo as 15h; no Sábado de Aleluia Jesus foi sepultado e por fim, o Domingo de Páscoa, dia que Cristo ressuscitou e apareceu aos seus discípulos.
Neste tempo de oração e recolhimento, além da frequência maior às igrejas e capelas, algumas práticas culturais populares deste tempo litúrgico permanecem sendo realizadas em Maricá, como por exemplo a canjica, um doce feito na Semana Santa, especialmente na sexta-feira por conta da abstinência de carne e outros tipos de alimentos fortes. Temos notícia que, tradicionalmente, em Maricá, mais precisamente na região do Bom Jardim, eram utilizadas colheres de pau e caldeirão de ferro para o fabrico da canjica no fogão à lenha.
Na Sexta-Feira Santa, dia da morte de Jesus Cristo, era um dia de grande luto em Maricá, visto que o povo era muito católico. O trem não apitava ao chegar e sair da estação; não era feito barulho algum, ninguém ouvia música e nem varria as casas; quem tinha o nome “Maria” se vestia de branco, sendo uma referência à Mãe de Jesus; as crianças não podiam brincar e nem falar alto e ninguém podia tomar banho ou lavar o cabelo. Os moradores que viviam ao redor da Fazenda Bom Jardim (fundada em 1817) participavam da celebração da Sexta-Feira Santa, feita na Capela Santo Antônio e organizada por D. Carmem Cruz, dona da fazenda. Logo após, ela servia canjica, como um gesto de fé e devoção. Os paroquianos da Paróquia Nossa Senhora do Amparo tinham o costume de distribuir terços confeccionados a partir de uma planta conhecida como “lágrimas de Nossa Senhora” ou “conta milagrosa”. O terço era distribuído nas capelas de cada distrito pelos moradores dos locais e eram usados na Procissão do Senhor Morto. Essa tradição de distribuir terços permaneceu até a década de 1960.

Planta “Lágrimas de Nossa Senhora”, que tinha as suas sementes usadas para a confecção dos terços utilizados na procissão do Senhor Morto em Maricá.
https://ademircarosia.blogspot.com/2021/06/lagrima-de-nossa-senhora.html.
Uma outra tradição é a “Procissão do Encontro”, com as imagens de Nossa Senhora das Dores e o Senhor dos Passos em direção à Matriz de Nossa Senhora do Amparo. A procissão com a imagem de Maria vem conduzida pelas mulheres, saindo do Convento Nossa Senhora do Bom Conselho e a procissão com a imagem de Jesus, sai da Capela São Pedro, em Araçatiba, conduzida pelos homens. Esse momento tem como objetivo celebrar e proporcionar momentos de meditação aos fiéis, através do encontro da Virgem Maria com o Seu Filho Divino, carregando a Cruz no caminho do Calvário, pelas ruas de Jerusalém, depois de ser flagelado, coroado de espinhos e condenado à morte por Pilatos.
As festividades Católicas em Maricá atraíam muitas pessoas, sobretudo na década de 1950. Nessa época, os moradores da zona rural tinham o costume de confeccionar cruzes de bambu, colocando-as nas árvores frutíferas, pois acreditavam que a cruz iria fazer amadurecer as frutas durante a Semana Santa.
As residências eram ornamentadas com flores plantadas durante o final do ano anterior para florescerem na semana santa. Uma das plantas usadas era a quaresmeira, por conta da sua cor roxa, que é a cor litúrgica do tempo da Quarema.
A Semana Santa de 1842
A Câmara Municipal da Vila de Santa Maria de Maricá foi instalada no dia 27 de agosto de 1815 (um ano após a criação da Vila de Santa Maria de Maricá), tendo como seu primeiro presidente o Sr Domingos Álvares de Azevedo. Segundo atas da Câmara Municipal de Maricá, a Câmara funcionou na Sacristia da Igreja Matriz Nossa Senhora do Amparo enquanto não possuía sede própria. Somente no ano de 1841, foi inaugurado o edifício da Casa de Câmara e Cadeia (atual Casa de Cultura), construído entre 1836 e 1841. Contudo, segundo a historiadora Maria Penha de Andrade e Silva, mesmo sendo inaugurado em 1841, o Poder Legislativo só foi transferido da Sacristia da Matriz para o seu novo endereço na Semana Santa do ano de 1842. Para marcar essa transferência, foi confeccionado um crucifixo, que segundo os antigos moradores, foi feito de madeira de Oliveira, vinda de Portugal. O crucifixo foi
instalado no plenário da Casa de Leis, e permanece até hoje no plenário da atual Câmara Municipal (na Avenida Nossa Senhora do Amparo).
Segundo a história oral contada por Hipólito Cândido Barbosa à historiadora Maria Penha de Andrade e Silva, o Cristo Crucificado do plenário da Câmara Municipal só saiu do plenário da Câmara duas vezes: A primeira foi para uma procissão realizada em Maricá, no tempo da Gripe Espanhola, pedindo a Deus que a epidemia acabasse. Milagrosamente, a alta taxa de mortes no município, por conta da gripe, teve uma grande queda até se extinguir. E a segunda saída da Cruz foi para a mudança da sede do Poder Legislativo para o seu atual endereço.

Cristo Crucificado do plenário da Câmara Municipal de Maricá. Foto: Miguel Ângelo Padilha.
Conhecer as tradições da Semana Maior em Maricá é também conhecer um pouco da nossa História!
Autor:
Miguel Ângelo Padilha Marques – 13 anos – Pesquisador de História, com ênfase na História do Brasil e de Maricá, e Presidente do Instituto Histórico, Geográfico e Ambiental de Maricá Mirim (IHGAM Mirim).
Fontes:
LAMBRAKI, Alexandra. Compêndios da História de Maricá. Rio de Janeiro: Cop Ediotra e Gráfica Ltda, 2005.
SILVA, Maria Penha de Andrade e; GAMA, Renata; TOLEDO, Renata. Tradições da Semana Santa em Maricá. In: Revista Maricá já, nº 60, 2019.
https://brasilescola.uol.com.br/historia/origem-da-semana-santa.htm.
https://www.cnbb.org.br/o-significado-de-cada-dia-da-semana-santa/
https://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/semana-santa/procissao-encontro-na-semana-santa/