A Vida e a Obra de João Ferreira de Almeida

Cristão em foco

João Ferreira de Almeida: O Tradutor da Bíblia para o Português

João Ferreira Annes d’Almeida, ou simplesmente João Ferreira de Almeida (Torre de Tavares, Várzea de Tavares, Portugal, 1628 — Batávia, Indonésia, 1691), foi um ministro pregador da Igreja Reformada nas Índias Orientais Holandesas. Ele é reconhecido especialmente por ser o primeiro tradutor da Bíblia para a língua portuguesa. A primeira publicação da sua tradução do Novo Testamento ocorreu em 1681, em Amesterdão. Almeida faleceu antes de concluir a tradução dos livros do Antigo Testamento, tendo chegado aos versículos finais do Livro de Ezequiel. Jacobus op den Akker completou a tradução dos demais livros do Antigo Testamento em 1694. Apenas a partir do século XVIII, publicaram-se os volumes da tradução do Antigo Testamento em português, em Tranquebar e Batávia, no Oriente. A primeira edição em um único volume de uma tradução completa da Bíblia em português foi impressa somente em 1819, em Londres. Além da tradução da Bíblia, João Ferreira de Almeida também escreveu algumas obras contra os ensinos da Igreja Católica Apostólica Romana.

Biografia

Almeida nasceu na localidade de Torre de Tavares, no Reino de Portugal. Ele ficou órfão ainda em criança e um tio, membro de uma ordem religiosa, o criou na cidade de Lisboa. Embora pouco se saiba sobre a infância e início da adolescência de Almeida, afirma-se que recebeu uma excelente educação visando a sua entrada no sacerdócio. Não se conhece o motivo que o levou a sair de Portugal, mas em 1642, aos quatorze anos, ele já se encontrava na Ásia, passando por Batávia (atual Jacarta, na Indonésia) e, em seguida, Malaca (na atual Malásia). Naquela época, Batávia era o centro administrativo da Companhia Holandesa das Índias Orientais, e os holandeses conquistaram Malaca, que era uma ex-colônia portuguesa, em 1641.

A Conversão ao Protestantismo

Em 1642, João Ferreira de Almeida deixou a Igreja Católica Apostólica Romana e se converteu ao protestantismo. Durante a viagem entre Batávia e Malaca, ele leu um tratado anticatólico em castelhano, intitulado “Differença d’a Christandade”, que traduziu para o português. Esse panfleto atacava algumas doutrinas e conceitos do catolicismo, além de criticar a utilização do latim nos ofícios religiosos. O conteúdo provocou um grande impacto em Almeida. Ao chegar a Malaca, ele juntou-se à Igreja Reformada Holandesa e começou a traduzir trechos dos Evangelhos do castelhano para o português.

O Padre João Ferreira de Almeida

Nas primeiras edições da tradução de João Ferreira de Almeida, aparece a informação de que ele seria padre. Isso ocorre porque, naquele contexto, a palavra “padre” poderia se referir tanto ao clero católico quanto aos ministros protestantes. Nesse sentido, ele seria padre (equivalente a pastor) da Igreja Reformada Holandesa, não da Igreja Católica Apostólica Romana. Além disso, sua posição anticatólica se revela em todos os seus escritos, pois, além de traduzir a Bíblia, ele compôs várias obras contra os erros que atribuía à Igreja Católica.

Tradutor da Bíblia Sagrada

Dois anos após rejeitar as doutrinas da Igreja Católica, João Ferreira de Almeida lançou-se em um enorme projeto: a tradução de todo o Novo Testamento para o português. Ele usou como base a versão em latim de Teodoro de Beza, consultando traduções em castelhano, francês e italiano. Ele completou o trabalho em menos de um ano, quando tinha apenas dezesseis anos. Terminada em 1645, essa tradução pioneira não foi publicada. No entanto, Almeida fez cópias à mão do trabalho e enviou-as para as congregações de Malaca, Batávia e Ceilão (hoje Sri Lanka). Apesar da sua juventude, ele enviou uma cópia do texto ao governador-geral holandês em Batávia, que, acredita-se, foi enviada para Amesterdam, mas desapareceu. Em 1651, ao receber um pedido de uma cópia da sua tradução para a Igreja Reformada na ilha de Ceilão, Almeida descobriu que o original havia desaparecido. Ele então começou a trabalhar novamente, partindo de uma cópia ou rascunhos anteriores e, no ano seguinte, concluiu uma versão revista dos Evangelhos e do Livro de Atos dos Apóstolos. Em 1654, ele completou todo o Novo Testamento, mas, mais uma vez, não imprimiram a tradução, realizando apenas algumas cópias manuscritas.

Almeida integrou-se ao ministério da Igreja Reformada Holandesa, inicialmente como “visitador de doentes” e, em seguida, como “pastor suplente”. Ele começou seu ministério como membro do Presbitério de Malaca, após ser escolhido como capelão e diácono da congregação.

Contribuição e Legado

Na época de Almeida, um tradutor para a língua portuguesa era muito útil para as igrejas daquela região, já que o português se tornava o idioma comum nas congregações presbiterianas e era amplamente falado em várias partes da Índia e do Sudeste da Ásia. Contudo, acredita-se que o português utilizado por Almeida, tanto nas pregações quanto na tradução da Bíblia, era bastante erudito e, portanto, difícil de entender para a maioria da população. Essa impressão se reforça por uma declaração dele em Batávia, quando se ofereceu para traduzir alguns sermões “para a língua portuguesa adulterada, conhecida desta congregação”.

Em 1656, foi ordenado pastor e indicado para o Presbitério do Ceilão, onde trabalhou na revisão da tradução de partes do Novo Testamento. Durante seu pastorado em Galle, Almeida assumiu uma posição forte contra o que chamava de “superstições papistas”, levando o governo local a apresentar queixa ao governo de Batávia. Entre 1658 e 1661, enquanto pastor em Colombo, ele enfrentou problemas com o governo, que tentou impedi-lo de pregar em português, possivelmente devido às suas ideias anticatólicas.

A passagem de Almeida por Tuticorin (Sul da Índia), onde foi pastor por cerca de um ano, também não foi tranquila. Tribos da região se negaram a ser batizadas ou a ter seus casamentos abençoados por ele. Segundo seu amigo Baldaeus, isso ocorreu porque a Inquisição havia ordenado a queima de um retrato de Almeida em praça pública em Goa. Durante sua estada no Ceilão, Almeida casou-se com Lucretia Valcoa de Lemmes (ou Lucrécia de Lamos), que também veio do catolicismo para o protestantismo. Um acontecimento curioso marcou o início da vida do casal: numa viagem pelo Ceilão, Almeida e Dona Lucretia foram atacados por um elefante, escapando por pouco da morte. Posteriormente, a família cresceu com o nascimento de um menino e de uma menina.

Monumento a João Ferreiria de Almeida em Portugal

Igreja Evangélica Batista de Mangualde, em Portugal, se reúne lembrando os 390 anos de Falecimento de João Ferreira de Almeida, onde foi criado um monumento em homenagem a ele e um instituto de estudo da Bíblia sagrada.

Leave a Reply