Navio negreiro naufragado em Maricá pode virar documentário e resgatar história esquecida

Notícias de Maricá

Foto: Thamy Mello

Projeto busca revelar ao mundo os vestígios da diáspora africana no litoral de Itaipuaçu e reforçar o valor histórico da cidade

Uma descoberta histórica em Maricá, região litorânea do estado do Rio de Janeiro, está prestes a ganhar as telas — e o reconhecimento que merece. Trata-se dos vestígios do navio negreiro Sumaca Malteza, que naufragou em 1850 nas imediações das Ilhas Maricás, em Itaipuaçu. Agora, o achado pode se tornar tema de um documentário com potencial para projetar a cidade internacionalmente e preservar uma parte dolorosa, porém essencial, da história da diáspora africana no Brasil.

Na última sexta-feira (9), representantes da Prefeitura de Maricá se reuniram com integrantes do Instituto Afrorigens e do Slave Wrecks Project. O encontro serviu como ponto de partida para uma parceria promissora: transformar o achado em um estudo aprofundado, aliado à produção de um documentário que possa ecoar essa história pelo mundo.

Representando o município, participaram o secretário de Relações Internacionais, Jorge Castor, e a secretária de Comunicação Social, Danielle Ferreira. Já o Afrorigens apresentou detalhes do projeto, citando inclusive a repercussão que a descoberta já vem ganhando na mídia nacional e internacional.

Um legado submerso que quer emergir

A descoberta dos destroços do Sumaca Malteza não foi por acaso. Pesquisadores que atuavam em Angra dos Reis, também na Costa Verde fluminense, chegaram até a embarcação no fim de 2023. A localização da embarcação foi possível graças a cruzamentos entre relatos históricos e mapeamentos da região — revelando que as Ilhas Maricás eram uma rota frequente, e por vezes trágica, dos navios que transportavam pessoas escravizadas da África para o Brasil.

“Queremos contar essa história para o mundo. As Ilhas Maricás ficam em uma área que era passagem direta dos navios negreiros. Sem a tecnologia que temos hoje, muitos capitães acabavam colidindo com as pedras da costa. E foi isso que aconteceu com o Sumaca Malteza”, relatou Jorge Castor, natural de Maricá e conhecedor das narrativas da cidade, especialmente sobre a rota negreira e o desembarque clandestino em Ponta Negra, após a proibição no Cais do Valongo, no Rio.

Mais que um documentário: uma missão de memória

Para a secretária Danielle Ferreira, o projeto representa mais que uma produção audiovisual — é uma ação de memória e identidade. “Estamos falando da criação de um legado. Contribuir com essa reconstrução histórica é uma forma de posicionar Maricá no cenário internacional e valorizar nossa trajetória enquanto sociedade. Isso é mais que comunicação, é uma responsabilidade histórica”, destacou.

O documentário que está sendo proposto pelo Instituto Afrorigens, em parceria com a produtora Aventura Produções, deve ter como foco não apenas os achados arqueológicos, mas também as histórias vivas da região: relatos de quilombolas, indígenas, pescadores e descendentes que mantêm viva a memória do Sumaca Malteza.

“De todos os cerca de 12 mil navios negreiros que cruzaram o Atlântico durante mais de três séculos, apenas seis foram identificados e estudados. E um deles está aqui, em Maricá. É uma história que ficou escondida por muito tempo e que agora pode finalmente ser contada”, enfatizou Yuri Sanada, vice-presidente do Afrorigens.

Patrimônio da humanidade?

O potencial da descoberta é tão grande que já se discute a possibilidade de tombamento do Sumaca Malteza pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Mais do que isso: há também expectativa de que, futuramente, o local possa ser reconhecido como patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO.

Para Vera Regina Sanada, diretora do Afrorigens, a linguagem do documentário é o caminho ideal para alcançar um público mais amplo. “O audiovisual tem o poder de simplificar temas complexos e aproximar as pessoas da sua própria história. Esse projeto vai trazer à tona a força da memória dos povos originários, quilombolas e comunidades tradicionais que mantêm vivas essas raízes”, concluiu.

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