Fotos: Bernardo Gomes
Encontro entre músicos e Secretaria de Cultura abre novas portas para talentos locais em programações municipais
Naquela terça-feira fria de maio, o Cine Henfil, no coração de Maricá, foi palco de uma transformação silenciosa no cenário cultural da cidade. Enquanto eu observava a movimentação daqueles 44 artistas que se acomodavam nas cadeiras vermelhas do auditório, percebia nos olhos de cada um a mistura de esperança e ansiedade. Afinal, não é todo dia que músicos independentes têm a oportunidade de dialogar diretamente com quem toma as decisões culturais do município.
Um novo amanhecer para os artistas locais
O secretário Sady Bianchin não estava ali apenas como figura política. Entre cafezinhos e conversas informais antes da reunião começar, notava-se sua proximidade genuína com muitos dos presentes. “Conheço o trabalho de vocês, sei do potencial que temos aqui”, comentou em determinado momento, enquanto folheava algumas anotações.
A decisão anunciada durante o encontro caiu como música nos ouvidos dos presentes: a Prefeitura de Maricá vai incluir os artistas da terra em projetos desenvolvidos pela Secretaria de Cultura e das Utopias, através de um sistema de rodízio que promete democratizar os espaços culturais.
“Esse é o tipo de iniciativa que a gente espera há anos”, confessou-me Maria Luíza, vocalista de uma banda de MPB, enquanto guardava seu violão após a reunião. “Não é apenas sobre conseguir cachês, mas sobre existir culturalmente na nossa própria cidade.”
Do rock ao funk: diversidade como marca registrada
Um dos aspectos mais marcantes daquele encontro era a diversidade. Em um canto, músicos de rock discutiam arranjos com sambistas; do outro lado, jovens funkeiros trocavam ideias com veteranos da MPB. A pluralidade musical de Maricá estava representada em cada cadeira ocupada.
O secretário explicou que todos os artistas presentes foram catalogados por segmentos específicos, o que permitirá a criação de festivais temáticos distribuídos nas quatro estações do ano. Imagine só: primavera embalada por rock e blues, verão ao som de samba e pagode, outono com música sertaneja e forró, inverno aquecido pelo funk e outros ritmos.
“Vamos além de simplesmente abrir espaços”, afirmou Bianchin durante seu pronunciamento. “Queremos criar uma identidade cultural forte para Maricá, onde nossos artistas sejam os protagonistas.”
Entre esperanças e histórias reais
Ricardo Pop, como é conhecido nos palcos, estava sentado na terceira fileira. Aos 51 anos, carrega na voz e na guitarra décadas de história do rock nacional. Enquanto aguardava sua vez de falar, compartilhou comigo memórias de outros tempos.
“Já trabalhei com o Sady antes, e ele sempre foi um cara que entendeu o valor da cultura local”, relatou com aquele brilho nostálgico no olhar. “Estou vendo os projetos renascerem agora. É como se estivéssemos plantando sementes que vão florescer por toda a cidade.”
A expectativa dele, assim como a de tantos outros artistas presentes, é clara: mais oportunidades para mostrar seu trabalho, mais espaços para que a música produzida em Maricá ecoe pelos quatro cantos da cidade.
Além dos palcos tradicionais
Um ponto crucial do encontro foi a discussão sobre a inclusão de artistas LGBTQIAP+ em espaços além dos eventos específicos da comunidade. “A arte não tem fronteiras nem preconceitos”, defendeu um jovem cantor, recebendo acenos positivos dos presentes.
A reunião também abordou aspectos práticos, como orientações sobre a documentação necessária para contratações públicas – um obstáculo que frequentemente impede talentos genuínos de acessarem oportunidades profissionais.
“Não basta ter talento hoje em dia”, explicou o secretário. “É preciso entender a burocracia, e estamos aqui para facilitar esse processo para vocês.”
Projetos conectados às políticas culturais
Outro aspecto relevante anunciado foi a incorporação dos projetos criados pelos próprios artistas à Política Nacional Aldir Blanc (PNAB) e ao Programa Municipal de Arte e Cultura (Proac).
“Não estamos inventando a roda, estamos conectando vocês a mecanismos já existentes”, esclareceu Bianchin enquanto mostrava alguns formulários aos presentes. “O dinheiro para cultura existe, precisamos garantir que chegue às mãos de quem realmente faz cultura na cidade.”
Um futuro promissor se desenha
Ao final do encontro, enquanto as cadeiras eram desocupadas e pequenos grupos se formavam para conversas paralelas, era impossível não sentir que algo importante havia acontecido ali. A inclusão desses artistas em projetos como o Som da Terra e Som de Ponta representa não apenas oportunidades de trabalho, mas o reconhecimento do valor cultural que produzem.
Como me disse uma saxofonista ao deixar o local: “Hoje não saímos apenas com promessas, mas com um caminho concreto. Isso faz toda a diferença.”
Para Maricá, essa iniciativa promete transformar não apenas a vida dos músicos locais, mas a própria identidade cultural da cidade, tornando-a mais autêntica, diversa e representativa de seus talentos.
A próxima vez que você passear pela cidade e ouvir uma música ao vivo, lembre-se: pode ser fruto dessa terça-feira histórica no Cine Henfil, quando arte e política pública decidiram dançar juntas.Tentar novamente
Texto jornalístico com informações da Prefeitura de Maricá