Roda de conversa reúne forças de segurança e marca nova fase no combate à violência de gênero no município
Ainda me emociono quando vejo iniciativas que realmente podem mudar vidas. Na última terça-feira, tive a oportunidade de acompanhar um desses momentos transformadores em Maricá. O que poderia ser apenas mais uma reunião institucional revelou-se um marco para milhares de mulheres que vivem no município.
No coração da cidade, a Casa da Mulher serviu de palco para um encontro que reuniu os principais atores envolvidos na proteção feminina. O anúncio veio forte e claro: o equipamento passará a funcionar 24 horas durante fins de semana e feriados, além de estender seu atendimento para além do horário comercial em dias úteis.
Quando o Diálogo Salva Vidas
Confesso que já participei de muitas rodas de conversa sobre violência contra a mulher, mas raramente vi uma com representação tão completa e comprometida. Estavam lá agentes da Patrulha Maria da Penha, representantes da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Niterói, membros da Guarda Municipal e oficiais da Polícia Militar.
A presença do delegado Cláudio Oliveira, da 82ª DP de Maricá, trouxe a perspectiva investigativa para a mesa, complementando o olhar preventivo e assistencial dos demais participantes. O clima era de cooperação genuína – algo que nem sempre acontece quando diferentes instituições se reúnem.
“Precisamos falar a mesma língua”, comentou uma das agentes da Patrulha Maria da Penha durante um intervalo. E ela tem razão. Quando uma mulher busca ajuda, cada minuto conta, e qualquer descompasso na rede de proteção pode ter consequências devastadoras.
O Que Muda na Prática?
A ampliação do horário de funcionamento da Casa da Mulher parece uma medida simples, mas representa uma revolução silenciosa. Sabemos que a violência doméstica não segue horário comercial – pelo contrário, muitos casos ocorrem justamente nos momentos em que os serviços tradicionais estão fechados.
Imaginem uma mulher que sofre uma agressão às 22h de um sábado. Até agora, suas opções eram limitadas: uma delegacia comum, talvez um hospital, mas sem o acolhimento especializado que sua situação exige. A partir de agora, essa mesma mulher terá um local seguro, com profissionais capacitados para recebê-la, independentemente da hora ou do dia.
Durante o encontro, foram discutidas práticas de acolhimento às vítimas, os papéis específicos de cada instituição e a importância de uma atuação verdadeiramente integrada. Não estamos falando apenas de um atendimento burocrático, mas de um olhar humano para um problema complexo que afeta tantas vidas.
Vozes que Fazem a Diferença
Ingrid Caldas, secretária de Políticas e Defesa dos Direitos das Mulheres, não escondeu o entusiasmo com o encontro. “Promover esse tipo de diálogo é essencial para alinhar ações, fortalecer a rede de apoio às mulheres e valorizar o trabalho das profissionais de segurança que atuam diretamente nesse contexto”, afirmou ela, com a convicção de quem sabe que cada palavra pode se transformar em ações concretas.
Por sua vez, Julio Veras, secretário de Segurança Cidadã, trouxe uma perspectiva que raramente vemos em gestores da área: a necessidade de humanização no atendimento às vítimas. “A integração entre as forças de segurança e as políticas públicas é fundamental para oferecer respostas mais específicas e humanas às demandas das mulheres. Estamos comprometidos em atuar de forma conjunta e preventiva”, destacou.
Veras foi além e tocou em um ponto crucial: a prevenção. “Que as rodas de conversa e os diálogos cheguem também às unidades escolares, como forma de alerta e conscientização”, sugeriu, demonstrando entender que o enfrentamento à violência contra a mulher começa muito antes da agressão – começa na educação, na formação de novas mentalidades.
Além das Paredes da Casa da Mulher
O que mais me impressionou foi perceber que a iniciativa anunciada não é uma ação isolada. Ela integra um conjunto de políticas públicas que a Prefeitura de Maricá vem desenvolvendo para promover a equidade de gênero e prevenir a violência contra a mulher.
Da capacitação profissional ao suporte jurídico, passando por atendimento psicológico e até mesmo programas de autonomia econômica, o município tem construído uma rede que vai muito além do atendimento emergencial. É um trabalho que entende a complexidade do problema e busca atacar suas múltiplas raízes.
O Peso do Exemplo
Cidades vizinhas já começam a observar o modelo de Maricá. Enquanto conversava com alguns participantes após o encontro, ouvi de um representante de outro município: “Precisamos levar isso para nossa cidade também”. E esse é talvez o maior impacto de iniciativas como essa – elas inspiram, multiplicam-se, criam um efeito cascata que pode transformar toda uma região.
A violência contra a mulher é uma triste realidade brasileira que atravessa fronteiras municipais, classes sociais e níveis educacionais. Quando uma cidade como Maricá dá um passo tão significativo, não está apenas protegendo suas cidadãs – está elevando o patamar do que podemos e devemos esperar do poder público.
Um Compromisso de Longo Prazo
O que foi anunciado na terça-feira não é apenas uma medida administrativa, mas um compromisso público com a proteção das mulheres. É uma mensagem clara: em Maricá, a violência contra a mulher não será tolerada, e as vítimas terão acolhimento a qualquer hora do dia ou da noite.
Para as mulheres que vivem no município, é um alívio saber que não estão sozinhas. Para os agressores, é um recado de que suas ações terão consequências. E para toda a sociedade, é um lembrete de que, com vontade política e trabalho integrado, é possível criar mecanismos eficientes de proteção e prevenção.
A roda de conversa de terça-feira foi mais que um encontro – foi um marco. E como alguém que acredita no poder das políticas públicas para transformar realidades, só posso dizer: que venham mais iniciativas como essa, em Maricá e em todo o Brasil.
Afinal, quando uma mulher está segura, toda a sociedade se beneficia. E isso não tem preço.