Teste com massa sem glúten encanta alunos e aproxima escola da agricultura familiar local
Ontem estive na Escola Municipal Jacintho Luiz Caetano, no bairro Caju, e presenciei uma cena que me encheu de esperança: 120 crianças entre 4 e 10 anos comendo com gosto um macarrão parafuso diferente de tudo que já haviam experimentado. No lugar do tradicional trigo, a massa tinha como ingrediente principal algo bem brasileiro – a farinha de aipim.
Da terra para o prato: produção local ganha espaço nas escolas
A Prefeitura de Maricá inovou mais uma vez através da Secretaria de Educação. Desta vez, trouxe para a mesa dos pequenos estudantes um alimento que pode transformar a realidade de muitas crianças, especialmente aquelas com intolerância ao glúten.
Enquanto observava as crianças saboreando o macarrão, conversei com Ledir Barbosa da Rosa, diretora da escola há anos. “Não é nossa primeira experiência com novos alimentos”, contou ela, enquanto acompanhava a refeição dos alunos. “Já testamos mel, peixe e banana, tudo vindo diretamente dos produtores daqui.”
O que mais me impressionou foi como Ledir, com seus 35 anos de dedicação à rede municipal, percebeu mudanças significativas na relação das crianças com a comida. “Quando eles sabem que o alimento é produzido aqui, com ingredientes da nossa terra, a aceitação muda completamente. As crianças se tornam parte do processo”, explicou com um brilho no olhar.
Uma parceria que alimenta o futuro
Entre uma garfada e outra, conheci Suzy Clementino, dona da fábrica Empório I Piatti. Seu entusiasmo era visível ao ver as crianças devorando sua criação. “Desenvolvemos esse macarrão pensando justamente neles”, comentou, enquanto vários pequenos pediam repetição do prato.
A empresa de Suzy já fornece biscoitos de batata-doce adoçados com passas para as escolas do município, mas agora avançou um passo além. “Trabalhamos diretamente com a Associação dos Agricultores de Maricá. O aipim e a batata-doce que usamos vêm dessas pequenas propriedades”, revelou com orgulho.
Durante nossa conversa, ela apontou para o refeitório cheio: “Estamos absolutamente prontos para atender toda a rede escolar. Sabe o que isso significa? Mais agricultores familiares plantando, mais empregos na fábrica e, claro, crianças comendo melhor.”
O veredicto dos pequenos jurados
Rosane Antunes, nutricionista da Secretaria de Educação, explicou que cada detalhe foi pensado para conquistar o paladar infantil. “Escolhemos o formato parafuso porque, nos testes iniciais, agradou mais do que outros como espaguete ou talharim”, contou ela, enquanto anotava as reações dos alunos.
Posteriormente, Rosane me explicou como funciona o processo de aprovação: “Agora vem a parte decisiva. Faremos um teste formal de aceitabilidade. Se pelo menos 85% dos alunos derem o ‘OK’, o macarrão de aipim entrará oficialmente no cardápio regular.”
Curiosa, aproximei-me de algumas crianças para ouvir suas primeiras impressões. Lívia Monteiro, uma menina de olhos vivos de 8 anos, me surpreendeu com sua sinceridade: “Eu geralmente não gosto muito de aipim, sabia? Mas esse macarrão estava bem gostoso. Nem dava pra perceber a diferença!”
Logo ao lado, Milena Siqueira, também de 8 anos, arregalou os olhos quando contei sobre o ingrediente principal: “Era de aipim? Nem percebi! Estava muuuuito gostoso!”, exclamou, enfatizando cada sílaba com entusiasmo genuíno.
Além da refeição: um movimento pelo bem-estar
O que testemunhei vai muito além de uma simples mudança no cardápio escolar. Essa iniciativa integra o programa Bem Viver Alimentar, desenvolvido em parceria com o Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá (ICTIM), e representa um movimento pela valorização da alimentação local, inclusiva e sustentável.

Para crianças com doença celíaca – que não podem consumir glúten – essa mudança pode significar participar integralmente da hora da refeição, sem se sentir diferente dos colegas. Já para os agricultores locais, representa garantia de renda e valorização do seu trabalho. Em relação à cidade, simboliza um ciclo econômico virtuoso que começa na terra e termina no sorriso de uma criança satisfeita.
Ao deixar a escola, notei uma pequena revolução silenciosa acontecendo ali, em torno de um simples prato de macarrão. Uma transformação que conecta a terra, a escola, a indústria local e principalmente, o futuro representado por cada uma daquelas 120 crianças.
Maricá mostra, mais uma vez, que soluções simples e eficazes para problemas complexos podem estar mais próximas do que imaginamos – às vezes, tão próximas quanto o quintal de casa onde cresce um pé de aipim.
Fotos: Thamyris Mello


